6.7.12

mais ilustrações "pós-conectadas"

Com estas artes também aconteceu algo parecido com o que eu estava comentando na postagem anterior: elas se tornaram ilustrações depois de já criadas.
Eu concorri a uma bolsa de estudo em um curso de ilustração (poderia citar qual mas também não precisa), aí enviei essas duas artes, que achei que se encaixaram muito bem nos temas, e eu não tinha tempo para criar ilustrações especificamente para o concurso. Claro que não foi a forma ideal de participar, e não são artes muito objetivas (mas podem funcionar bem como ilustrações, dependendo do público). Acredito que se enquadraram muito bem nos temas, que também eram tão "surrealistas" quanto. Não ganhei, mas tudo bem, valeu o exercício.

Os temas eram as duas poesias que coloco abaixo junto às artes, e também comento qual o contexto original da criação delas.



"Smog", pintura sobre papel,
(nanquim, urucum, acrilica, café, bic...), 29 x 21,7 cm

No contexto das chamadas "artes plásticas", onde a arte geralmente não precisa se conectar a um tema ou texto, pensando mais em sua função para exposição e fruição (percepção da arte em seus diversos aspectos: estéticos, sensoriais e intelectuais principalmente), gosto de deixar geralmente as artes como "obra aberta", para que cada um interprete livremente à sua maneira. Apenas coloco nomes que sugerem a minha visão, o contexto imaginativo no qual criei a imagem.

Na forma como entendo estas classificações, que parece que é a corrente entre os colegas destas áreas, a diferença entre "ilustração" e "artes plásticas" está principalmente em suas finalidades: a arte plástica geralmente é concebida para a exposição em galerias, enquanto que a ilustração estará conectada a algum assunto ou tema, lhe dando suporte ou compondo junto um contexto comunicativo. Digo isso de forma bem resumida, só para explicar o necessário, e ressalto que uma não exclui a outra, muito pelo contrário, como é o caso que estou colocando aqui em estudo.

Então, essa arte, o "Smog", surgiu de uma imagem que foi sendo construída na minha imaginação por muito tempo, juntando idéias filosóficas e etc aqui e ali, até que num momento a imagem salta num lampejo e se constrói enquanto eu pintava, ainda sem saber previamente sua configuração final. As idéias por trás são: um "naturocentrismo", ao invés de um "antropocentrismo", simbolizado na flor no lugar da cabeça, que também pra mim simboliza iluminação, um grande chakra mandala expandido, uma iluminação em meio à poluição, em meio ao barulho, caos, e não em meio ao silêncio... substituindo a face, também, símbolo da persona, ou as vezes do ego, exaltada no meio virtual como avatar até chegarmos ao "facebook"... enfim, essa arte surgiu de uma mistura de tudo isso, entre outras coisas, gerando uma espécie de ser mítico ou entidade. "Smog" é um termo em inglês que funde smoke (fumaça) e fog (neblina), para descrever um fenômeno da poluição.

Agora, o texto tema à qual conectei posteriormente essa arte plástica, tornando-a também ilustração:

"O mundo é a casa errada do homem. Um simples resfriado que a gente tem, um golpe de ar, provam que o mundo é um péssimo anfitrião. O mundo não quer nada com o homem, daí as chuvas, o calor, as enchentes e toda sorte de problemas que o homem encontra para a sua acomodação, que aliás, nunca se verificou. O homem deveria ter nascido no Paraíso."

Nelson Rodrigues

E a segunda arte plástica / ilustração em questão:


"Urutau", nanquim e giz pastel sobre papel
(se tiver muito escuro, ajuste seu monitor)


Já essa arte surgiu num momento crítico de minha vida, envolvendo um falecimento na familia e o final de um relacionamento... não vou entrar em mais detalhes porque é muito pessoal, mas digo isso só pra verem que tem tudo a ver com o tema que coloco a seguir... Ah, e Urutau é o nome de um passaro, significa "passaro fantasma" em guarani, porque ele pia um lamento de madrugada e tem lendas associadas a ele...


texto tema no qual encaixei para ilustração:



Amor é bicho instruído

Olha: o amor pulou o muro
o amor subiu na árvore
em tempo de se estrepar.
Pronto, o amor se estrepou.
Daqui estou vendo o sangue
que escorre do corpo andrógino.
Essa ferida, meu bem
às vezes não sara nunca
às vezes sara amanhã.


Carlos Drummond de Andrade
 

 

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